Dentre as muitas mudanças que o Ensino Médio traz para os alunos, uma delas é o acréscimo da disciplina de Literatura ao currículo. Mais do que ler livros, a intenção agora é entender essa forma de arte como expressão da cultura da humanidade. Não é nada fácil, são vários os desafios tanto pela densidade quanto pela interdisciplinaridade do conteúdo – estudar literatura envolve história, sociologia, filosofia e até geografia.
Outra barreira a ser enfrentada é o português arcaico – é que a preferência pela cronologia nos faz começar a estudar literatura lá na Idade Média, em Portugal. Um dos primeiros autores de destaque que trabalhamos é Gil Vicente, fundador do teatro português. Suas peças criticam a sociedade da época e ainda são muito atuais, mesmo datando do século XVI.
A leitura do Auto da Barca do Inferno é sempre recomendada para os alunos do 1º ano do Ensino Médio, mas pode ser bastante desmotivadora pelo vocabulário e pela sintaxe tão diferente do idioma que falamos – muitos se questionam se é realmente português. Para tentar aproximar os alunos, e minimizar as dificuldades, a leitura do auto foi feita em sala, os alunos se dividiram em personagens e a peça toda foi lida e comentada em sala.
A partir da leitura e da aula expositiva, os alunos foram convidados a produzir trabalhos criativos sobre um personagem à sua escolha. O resultado foi surpreendente: tirinhas, vídeo stop motion de lego, produção de diários das personagens, criação de um noticiário televisivo e de um jornal impresso, produção de um rap, adaptação e atualização da peça em quadros apresentados na sala, entre outros.
Como conclusão deste trabalho, dia 18 de setembro, fomos ao Teatro Maria Della Costa, assistir ao Auto da Barca, produzido pelo Grupo RIA – especialistas na adaptação de obras clássicas para o teatro há mais de 20 anos. A experiência não poderia ter sido melhor: a adaptação da peça é bastante fiel, mas atrai os alunos – músicas, temas e anedotas atuais prendem a atenção dos alunos, além da interatividade com a plateia. Todos – até mesmo aqueles que diziam não gostar de teatro – se divertiram. E, assim, uma leitura difícil foi transformada em uma experiência inesquecível para introduzir os alunos no vasto mundo que é a Literatura.